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26.2.07
oh Dio, Dio, Dio, dio, dio, dio, dio...
23.2.07
ארבעים
Cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, quando eles terminaram, sentiu fome.
Lc, 4-1
Il deserto rosso. Andiamo via.
22.2.07
E A BOMBA VEIO. ANUNCIADA. DEIXANDO O DEVIDO RASTO DE DESTRUIÇÃO SILENCIOSA. MAS COMO ENVOLVIA TUDO NÃO SE PODIA VER
13.2.07
Dois estranhos na mesma esquina a esperarem simultaneamente duas coisas diferentes. Dois carros, provavelmente. Um para cada um. Uns quantos amigos para um, uma familia para o outro. Enfim. Acontece que esperavam distintamente no mesmo sítio. É preciso fazer notar que só alguns estão vocacionados para a espera. Estou em creer que é mesmo uma vocação, um dom, uma singularidade, uma qualquer maldição dessas que distinguem. Mais ou menos como a caça - Proliferam como coelhos os caçadores deles, isto é, são uma espécie em abundância, os caçadores-histéricos. No entanto são raríssimos aqueles que se sabem suspender para auscultar o coração crescente da sua presa. São raros os caçadores que sabem caçar, e com grande nauséa o constato, demasiados os que chacinam. Assim também os esperantos, vamos chamar-lhes assim, são raros. E são tão óbvios os seus duplos farsantes. Aqueles que até esperam cheios de paciência escondidinhos atrás da pausa, agarrados ao telemovél ou a um qualquer gadget, que em versão mais simplória se substitui por um raminho de árvore partido, umas palavras-cruzadas. Um tricôzito. Palavra de honra, há tanto, tanto tempo que não vejo ninguém que espere em verdadeira posição de espera: desamparado, os braços caídos ao longo do corpo, os sentidos aguçados para o que há de chegar. E o corpo claramente esquecido e portanto vulnerável.
Há tanto tempo, que quando olhei o estranho ao lado no mesmo desamparo familiar me enterneci. E envolta numa cumplicidade indestrutível, embalei-me e disse-lhe o que achava sobre a nossa clara e cavalgante extinção.
- Desde que me lembro da vida que existiram poças de água junto aos passeios.
O tempo médio da espera foi 10 minutos.
10.2.07
a memória não tem deveres
esgotante era sabendo não poder viver um tempo findo como se fosse uma forma de reivindicar-lhe os deveres- e ela sabia, sabia que isso era exactamente o que sempre fizera errado- fazê-lo por não conhecer outra forma segura de comunicar/amar. O problema é que as coisas não tinham de ser principalmente seguras. E que esse esforço brutal só podia ser inglório como o sabia a cada dia no peso dos seus olhos. Era um ciclo viciado e vivo vivo.
Lembrava-se bem do dia em que tivera de esvair-se para corromper um semelhante ciclo, e da forma como -orgulhosamente hoje- percebia o brilhantismo da sua opção. Eram segredos só seus, segredos que ia construindo assim seus. (os segredos nada têm a ver com secretismo, as mentiras sim). Já nem sabia se eram bem vindos, escolhera-os assim havia muito, e lembrava como se agora as razões da sua escolha de menina-mulher. Recordava demasiados reversos simétricos, sobreposições temporais, e repetições em deferido. Já não tinha o que dizer e ainda não havia o que seria, e assim não a viam. E isso assustava-se a si mesmo e sobrepunha-se-lhe.
"a coisa" confundia os seus olhos construidos, e confundia-se com a memória de Joana cheia de reversos simétricos, sobreposições e transfigurações. Quanto mais próxima cheirava a terra menos dela podia moldar seus segredos (os segredos que nunca nada tiveram a ver com secretismo). Ia deixando um lugar confinado ao vazio, que nao era esquecimento nem ignorância, antes um lapso de tempo como a memória. que afinal era só uma memória cheia de direitos.
titulo ELOGE DE L'AMOUR
7.2.07
E Dudu disse esquece esse negócio de clausura, vocês precisam daquilo que arde ali à mão. Precisam tocar o desejo, a paixão (e seus derivados). Intenso tudo aquilo, ele a falar do meu amor. Dudu viu. E eu calei.
Durante todo o tempo que ele falou eu estava muito espantada com tanta certeireza (tendo em conta suas 4 hérnias discais e sua morna).
Mas do que gostei mesmo foi seu plural. Todo o tempo ele falou "vocês", como se o segredo pequenino que vinha nos unindo crescesse óbvio aos olhos do mundo. Dudu dizia, afinal, que eu tinha a mesma força com que você antes enchera as paredes daquela igreja. Isso me encheu de alegria.
A gente seguiu dançando. Resta dizer que Dudu era branco, de nariz afilado. Que trazia a fotografia do seu recentíssimo amor (3 dias) no bolso de dentro do casaco. E que os seus amigos o chamavam de príncipe.
6.2.07
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neste sítio comunica-se
por sinais de fumo
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"Obrigada meu Deus, por ter nascido. Faz que eu viva na alegria do ser, faz que eu viva no Espírito da tua verdade, faz que eu viva na tua misericórdia e salva-me em ti para que eu encontre em ti a minha inteireza. Perdoa-me os meus pecados mesmo aqueles que não vi por não ter sabido conquistar a lucidez necessária par os reconhecer. Ajuda-me a ver, salva-me do opaco, guia-me na tua transparência. Olha-me sempre, que o teu olhar me alimente e me sustente, não me deixes cair das tuas mãos. Ajuda-me a não pecar, ajuda-me a viver na comunicação dos santos, ajuda-me a construir o teu reino, ajuda-me a viver na alegria do Espirito Criador que me chamou do Tempo em que eu não era para o Tempo do ser."
Sophia de Mello Breyner, Fevereiro,1969
PARTIDALARGADAFUGIDA
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CADAUMPORSI
o rapazola, o eterno, o que jamais será um homem, que dispara em todas as direcções, e para o próprio pé também, embora sobretudo para os braços dos outros, impedindo-lhes o voo, amordaçando-os com a culpa (je me sens coupable parce que j'ai l'habitude, cantava Lhasa), com a culpa do mundo.
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(Texto do blog A espuma dos dias, Fevereiro do ano passado)