principalmente
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18.6.07
16.6.07
falas demasiado
alto do alto do
teu silêncio
14.6.07
laranjas pela manhã, podres poderes
O bicho em si não me faz espécie nenhuma. De frente, a gente engole-o nas tequilhas, pega-o à cara nas arenas.
o nojo do verme ser verme é precisamente a surpresa decrépita. Não te invoquei, ó ser vil, para a pequena, mas tão sólida, glória do meu banquete de laranjas pela manhã.
Não chamei a podridão a inaugurar o meu dia, mas de facto lá está ela, bandeira quase infecta de um reino secreto, que parece ter incubado toda a miserável vida à espera desse momento, em que irrompe à superfície, explode viscosa na minha cara e ri, ri alarvemente a minha minhoca nojenta.
Graças aos céus que há o nojo a purificar-nos a comezinha e burguesa glória. Que faríamos nós de nossa vida tão pura?
12.6.07
Abdicar, Prescindir, Renunciar
para a carolina
3- Desventurados os pobres de espírito pois debaixo da terra serão o que agora são na Terra.
4- Desventurado o que chora, pois tem o miserável hábito do pranto.
5- Desventurados os que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.
6- Não basta ser o último para alguma vez ser o primeiro.
7- Feliz o que não insiste em ter razão, pois ninguém a tem ou todos a têm.
8- Feliz o que perdoa os outros e se perdoa a si mesmo.
9- Bem-aventurados os mansos, porque não concordam com a discórdia.
10- Bem-aventurados os que não têm sede de justiça, porque sabem que o nosso destino, para melhor ou para pior, é obra do acaso, que é insondável.
11- Bem-aventurados os misericordiosos, pois a sua felicidade está no exercício da misericórdia e não na esperança de um prémio.
12- Bem-aventurados os puros de coração, pois vêem Deus.
13- Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque, para eles, é mais importante a justiça do que o seu destino pessoal.
14- Ninguém é o sal da terra; e ninguém, em momento algum da sua vida, não o é.
15- Que se acenda a luz de uma lâmpada, ainda que nenhum homem a veja. Deus a verá.
16- Não há nenhum mandamento que não possa ser infringido, incluindo os que eu determino e aqueles que os profetas indicaram.
17- Aquele que mata por causa justa, ou por uma causa que julgue justa, não é culpado.
18- Os actos dos homens não merecem nem o fogo nem o céu.
19- Não odeies o teu inimigo, pois se o fizeres, de algum modo serás o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz.
24- Não exageres o culto da verdade; não há homem que, ao fim do dia, não tenha mentido com razão muitas vezes.
26- Resiste ao mal, mas sem assombro nem ira. A quem te bater na face direita, podes dar a outra, desde que não sejas movido pelo medo.
27- Eu não falo de vingança nem de perdão; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.
28- Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é difícil; amá-lo, é tarefa para anjos e não para homens.
29- Fazer o bem ao teu inimigo é a melhor maneira de satisfazer a tua vaidade.
30- Não acumules ouro na Terra, porque o ouro é pai do ócio e este da tristeza e do tédio.
31- Pensa que os outros são justos ou que o serão e, se assim não for, não é a tua culpa.
33- Dá o que é santo aos cães e dá as pérolas aos porcos; o que importa é dar.
34- Procura pelo prazer de procurar, não pelo de encontrar...
39- É a porta que escolhe, não o homem.
40- Não julgues a árvore pelos seus frutos nem o homem pelas suas obras; podem ser piores ou melhores.
41- Nada se constrói sobre a pedra, tudo sobre a areia, mas o nosso dever é construir como se a areia fosse pedra...
47- Feliz o pobre sem amargura ou o rico sem soberba.
48- Felizes os corajosos que aceitam o aplauso ou a derrota com o mesmo ânimo.
50- Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor.
51- Felizes os felizes.
Jorge Luís Borges Fragmentos de um Evangelho Apócrifo
11.6.07
Do Manuscrito C de Santa Teresa
Imagino que nasci num país coberto por espesso nevoeiro
E que nunca contemplei o risonho aspecto da natureza inundada
É verdade que desde a minha infância oiço falar
E sei que para lá dele, na minha pátria, há outro
E que é por esse que aspiro cada dia.
Não é uma história inventada por um habitante que não volta para a lavra
Por um homem triste que pára na velhice ou em frente do arado
É por uma realidade brilhante como um rei em combate
Um herói a coroar-se das trevas que venceu
Se é é preciso que eu coma sozinho o nevoeiro da provação
Ainda que me doa a humidade do reino luminoso
Comerei a obediênca - há por certo
Uma região mais íntima na circulação das minhas veias
Uma outra terra que pensa a minha morada
Um perfume, uma maravilha, um repouso
Para a cabeça dos que lutam com bravura
Eu, porém, não disperso a energia. Reúno-a
Para o amor
Viro costas ao duelo como medalha no peito do esposo
E respiro até à última gota do sangue. Minha madre
Eu corro
Daniel Faria
1.6.07
ah, sob escuta, sobe escuta, sobe!