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16.12.06
Se começou há-de acabar. Sabe como é. Não é preciso que uma pessoa se aproxime muito. Está de pé e depois ajoelha. E esquema é antigo. Mas não o percebe. Mesmo que seja lento, mesmo que se demore muito tempo. Não importa quanto tempo. Mantém sempre a mesma ordem, mas também podia não a manter. Podia ter outra. ou a sua. Tem sempre outra. Tem sempre a sua. Isso é sabido. Tudo é sabido. Tudo isto é sabido. Sabe-se por onde começar e sabe-se como acabar. Mas também nunca se sabe. Todo o esforço consiste em reduzir o imprevisível.(...)Assim fica tudo na ordem. As formas são reveladas na sua dimensão real. Pouco a pouco o nevoeiro instala-se. Aí onde tudo parece, pouco a pouco deixa de parecer. Pouco a pouco nada parece. Pouco a pouco. Sem que ninguém o perceba. Quase docemente. Não há outro modo. O ferro permanece ferro mas o modo é suave. Imperceptível. Inconcebível. À vista dos outros. Não existe outro mas sempre à vista do outro. É este o objectivo. Por etapas. As pernas cedem e depois segue-se o resto do corpo. Os olhos estão abertos mas não vêem. Não vêem o que vêem. Como se as lágrimas os afogassem. Afogam-se os olhos. Arregalados, quase fora das órbitas, já não podem ver. É isto. Sabe-o bem. Indescritívelmente simples. Incompreensível. Todos os percebem. Todos o aceitam. Que outra coisa podem fazer? Só há isto. Suavemente. Docemente. Progressivamente. Por último cai a cabeça. Não. É a primeira a cair, mas o que cai por último é a cabeça. A cabeça é o que cai primeiro. E por último.
A Vertigem dos Animais Antes do Abate, Dimítri Dimitriádis
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